Dizem-se os filhos da luz
e pretendem transformar homens bons em homens melhores. Segundo o Rito
Escocês Antigo e Aceito, que assenta em três pilares – Sabedoria, Beleza e
Harmonia percorrem o caminho que os leva ao Grande Arquiteto do Universo
desde tempos imemoriáveis.
Transportam consigo a ciência do traço, o número e a regra no maior dos
segredos. Quando partem, no céu são as estrelas que iluminam na terra os seus
irmãos, transmitindo-lhes força, para que continuem fiéis aos seus ancestrais
princípios.
Eles, os maçons, não querem nem precisam do poder dos profanos, porque são o
poder que reconhece nos lugares sagrados a encarnação do divino na matéria. Com
o cinzel, deixaram as suas marcas nas mais magníficas catedrais góticas da
Idade Média que o mundo conhece.
Com o esquadro e o compasso estabeleceram planos, traçaram desenhos,
calcularam e realizaram a obra que o Rei Salomão quis erguer, para louvar e
honrar a memória do Deus de seu pai, o bíblico rei David, – o 1º Templo – em
Jerusalém, guardião da Arca da Aliança que continha as Tábuas da Lei.
Senhores da Espada Flamejante dos Cavaleiros; do Triângulo do fogo ou da
água; do divino Delta Luminoso e da Pedra Cúbica; retos como fio-de-prumo,
escolhidos para transmitir a luz. Nos seus templos, colunas unem a terra com
o céu, entre elas trocam segredos; e sobre elas colocam o fruto da união –
como uma dádiva, bagos como favos de mel, sã a bela e perfeita Romã. No
círculo mágico da sua Cadeia de União, na matéria geram energia, que eleva o
espírito nas ocultas decisões, como uma barca se move na bruma sem se ver.
Diz a lenda, que com folhas de Acácia, símbolo da imortalidade, cobriram o
túmulo do Mestre Hiram Abif – o egípcio Príncipe dos Arquitetos, que no
silêncio escutava o vento do deserto que lhe devolvia respostas.
Procuram a verdade Universal, sobrepõem a espiritualidade ao materialismo,
defendem a liberdade e os direitos humanos, a intimidade e convicções
pessoais, solidários com os desfavorecidos querem a fraternidade entre os
homens, tolerantes, de isenção política e religiosa, buscam o aperfeiçoamento
individual, em democracia anseiam a paz entre os povos, defendem a natureza e
o Universo
Juntam a lua com o sol, no brilho do orvalho da manhã, crescem na construção
do seu próprio templo interior, onde um céu salpicado de estrelas, os leva
para outra dimensão. Na sua fortaleza, tecem com fios de espectros, o
deslumbramento da alma no seu Deus revelado. Há quem diga que a Bíblia é um
documento de inspiração maçônica Há quem associe o inicio da Maçonaria à
construção do Templo, na época do Rei Salomão, ou que a coloque na alma dos
arquitetos egípcios que ergueram as grandes pirâmides da história.
Amados e odiados,
temidos e cobiçados, os maçons desde sempre foram perseguidos, e desde sempre
resistiram às maiores atrocidades cometidas contra si.
Perpetuando no tempo,
a sábia espiritualidade da alma numa dimensão atemporal, em corpos geometricamente
concebidos, pela Mão de Deus. São a expressão visível do invisível, mantendo
no seu poder a essência sagrada.
Nem Hitler, com a sua gigantesca maquinação conseguiu extorquir-lhes os mais
ocultos mistérios. Nem na Idade Média, Filipe IV (o Belo), rei de França, os
desmantelou, quando a 13 de Outubro de 1307 desencadeou a perseguição a todos
os membros da Ordem. É então que os Cavaleiros Templários saem de França.
Sendo acolhidos noutros países, (em Portugal a Ordem dos Templários foi
reformulada em Ordem de Cristo), mas um grande grupo de cavaleiros ao fugir
de França, consegue ir rumo à Irlanda e Escócia.
Por esta altura são divulgados os romances dos Cavaleiros da Távola Redonda,
na busca do Santo Graal liderados por Sir Lancelot, Galahad e Percival, e é
originado o Rito Escocês Antigo e Aceito, cuja religião aceita é a antiga, e
sobre o qual assentam até hoje, as práticas rituais maçônicas, exercidas pela
Maçonaria Regular oficialmente reconhecida em todo o mundo
Até meados do séc. XVIII, a maçonaria foi operativa, pois os maçons eram
construtores, e é pela época em que o mais antigo e importante documento maçônico denominado pelas “Constituições de Anderson” é concebido - 1723,
que passa a ser especulativa. A origem do Rito Escocês Antigo e Aceito é
posterior ao final do século XVII inícios de XVIII, sendo antes o rito mais
antigo o de York.
Nos inícios da maçonaria, existiram algumas lojas de adoção só de homens, em
que as mulheres em certas circunstâncias podiam assistir. No século XIX, como
consequência do movimento reivindicativo feminista, formaram-se lojas
femininas e mistas; embora em França a Grande Loja Feminina exista apenas
acerca de 60 anos e em Portugal há aproximadamente 5 anos. Todavia ambas as
maçonarias, masculina e feminina são guardiãs da mesma tradição segundo o
R.E.A.A., e por isso usando dos mesmos símbolos, e praticando os mesmos ritos
e rituais, até à atualidade.
Os maçons reúnem-se em Grandes Lojas ou Loja, onde cada irmão tem o seu Grau
correspondente - basicamente (aprendiz, companheiro e mestre).
Após terminarem as sessões rituais de Loja, segue-se habitualmente o ágape, e
no seu decurso bebe-se vinho, e com ele se fazem brindes, sendo que o vinho
na Maçonaria tem um valor simbólico, remetido à fraternidade do espiritual, e
relativamente às circunstâncias em que é utilizado, varia conforme ritos e
rituais exercidos.
Na consagração de um Templo ou de uma Loja:
No decorrer de um
processo de sagração maçônica de um espaço devidamente decorado para poder
ser caracterizado como um Templo Maçônico é utilizado um ritual que evoca a
construção do Templo de Salomão, assim, de uma ânfora de vinho tinto, faz-se
derramar um pouco do mesmo sobre o quadro do tapete do Templo, que
simbolizará a alegria que deve reinar entre os irmãos.
No início de um Ágape Maçônico:
Ágape é o nome atribuído a uma refeição maçônica, geralmente um jantar que se
segue a uma reunião de maçons, ritualmente desenvolvida na respectiva loja,
ou em assembleias da Grande Loja, que reúnem além do Grão-Mestre,
representantes de todas as lojas.
No início de um Ágape, um maçom designado para o efeito, profere uma evocação
simples, na qual é acompanhado por todos os presentes, em que toma numa mão
um copo de vinho tinto e na outra um pedaço de pão, explicando que o vinho
simboliza o espírito e o pão a matéria, ambos devem ser partilhados, em
solidariedade para com os desfavorecidos, que sofrem por falta de bens
espirituais ou materiais.
Durante o Ágape Maçônico
Iniciada a refeição ou banquete maçônico, normalmente e de forma ritual,
desenvolvem-se sucessivamente no tempo, e sequencialmente três tipos de
brindes com o vinho:
a) Por iniciativa do
Venerável Mestre, no caso de um ágape de responsabilidade de uma Loja, ou de
um Grão-Mestre no caso de um ágape da Grande Loja, este pode tomar a palavra
para distinguir algum irmão presente, em que o saúda, e brinda do seu lugar,
levantando-se, erguendo o copo e a taça, depois do Mestre-de-cerimônias anunciar solenemente que o Venerável, ou o Grão-Mestre deseja “beber vinho
com”, ou brindar ao homenageado em causa, que igualmente de pé, retribui o
brinde, e em silêncio, bebe da taça simultaneamente.
b) Por ordem do maçom que preside ao banquete, e depois de servido o primeiro
prato (ou entrada), o Mestre-de-cerimônias propõe ou indica, quem vai propor
uma série ritual de brindes proferidos, espaçadamente e sucessivamente,
destinado ao:
- Chefe de Estado
(Presidente da República, e por exemplo em Inglaterra á Raínha, e em Espanha
ao Rei);
- Soberanos e Chefes
de Estado que em todo o mundo protegem a maçonaria;
- Grão-Mestre; (ou Venerável Mestre);
- Grandes Oficiais;
- Aos ilustres
visitantes;
Após estes brindes
rituais, abre-se um período de brindes livres, em que qualquer maçom
presente, pode propor um brinde de sua iniciativa
c) Finalmente, no
encerramento do ágape maçônico existe um brinde simbólico denominado brinde
das 11 horas, que evidencia pela posição dos ponteiros, o aspecto de um
compasso prestes a fechar-se, o que ocorre à meia-noite pela sobreposição dos
ponteiros.
Neste brinde, o
Grão-Mestre (ou Venerável Mestre) permanece sentado, e o maçom mais jovem (ou
o aprendiz mais recente) coloca-se de pé imediatamente por detrás, coloca a
sua mão esquerda no ombro direito daquele, ergue a sua taça e profere a
seguinte saudação: “ A todos os maçons que se encontrem longe de suas casas,
ou afastados dos seus, em sofrimento, ou em viagem, na terra, no ar, ou no
mar, desejamos-lhes um pronto restabelecimento, e o seu regresso a casa, se
assim o desejarem”.
Todos os maçons presentes, de pé, erguem então as suas taças de vinho, e
respondem em uníssono: “ A todos os maçons”.
Em algumas ocasiões, quem preside ao banquete maçônico pode retribuir este brinde.
Levanta-se, e de frente para o aprendiz, estando este com a taça erguida,
toca-a com a sua, e declara: “meu irmão – eu não sou mais que tu”; de seguida
tocam-se outra vez as taças, e declara: “meu irmão – tu não és menos do que
eu”; depois, pela terceira vez, tocam-se as taças, e declara: “meu irmão, tu
e eu somos iguais, bebamos juntos”, e de seguida, entrelaçam os braços e
bebem simultaneamente. Os irmãos presentes saúdam este final com uma salva de
palmas.
Qualquer das sessões de Loja ou de Grande Loja, são realizadas em espaços
privativos ou reservados. Os ágapes maçônicos, embora possam também efetuar-se
em restaurantes públicos, o local escolhido deve ser recatado e discreto,
utilizando terminologia ritual.
Os brindes maçônicos são sempre feitos com vinho tinto, (pólvora negra) e de
pé. Os copos são levados à boca de forma pausada e ritmada, que começa com o
alinhar dos canhões (copos), apresentar armas, e apontar. São retribuídos por
todos os maçons com a expressão “Fogo”.
Feito o brinde, bebido o vinho de forma ritual, em três tempos, (fogo, bom
fogo e fogo à vontade), o copo retoma a sua posição na mesa, também com gesto
ritual, sequencial, em três tempos, terminando com o pousar do copo,
simultâneo com um ruído seco.
Não conheço bebida mais misteriosa que o vinho.
Não conheço homem mais
enigmático que o maçom.
Não há bebida mais
nobre que o vinho.
Não há homem de retidão
mais implacável que o maçom.
Por isso a sua união é harmoniosamente perfeita.
A sabedoria conhece o
que é Sagrado, e sabe que não deve ser profanado.
Há segredos que a
Natureza e algumas mentes humanas luminosas, no seu imenso poder, jamais
revelarão.
Maria Paula Boloca Carvalho Vendrell
Eng.ª T.
Agro-Alimentar (Área – Enologia)
Agradecimentos:
Ao Venerável Dr. Luís Nandim de Carvalho, pela sua simpatia, pelo seu comportamento
de verdadeiro maçom na disponibilidade prestada, por tudo o que com ele
aprendi, pela indicação de documentos sobre maçonaria, e documentos cedidos
sobre os rituais do vinho na maçonaria, que tornaram possível a realização
deste artigo
À Dra. Olga Maria Serra, pela paciência com que me ensina tantas coisas
sábias.
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